É preciso deixar o tabu de lado e reconhecer que o envelhecimento feminino é o retrato do futuro
Para além de todas as opressões impostas às mulheres pelo sistema patriarcal e misógino que opera no Brasil, há uma violência que começou a ser reconhecida recentemente: o etarismo. Definido como o preconceito contra pessoas devido à idade, o etarismo afeta homens e mulheres de formas distintas.
Apesar de ser um processo fisiológico natural e inescapável, o envelhecimento não é permitido às mulheres. Enquanto rugas e cabelos brancos são vistos positivamente, como sinais de autoridade, conhecimento e até sensualidade para eles, nós sofremos com a discriminação, julgamentos e pressões estéticas. Isso porque vivemos em uma cultura acostumada a enaltecer o jovem, o branco, o magro.
Com o passar dos anos, as mulheres passam a ser consideradas incapazes e inúteis. Vamos perdendo nosso lugar na vida pública à medida que nosso valor é atrelado somente à aparência e à jovialidade.
Por muito tempo a sociedade estabeleceu padrões sobre como as mulheres acima dos 40, 50 anos deveriam parecer, como deveriam se portar e o que elas deveriam esperar da vida dali para frente. Porém, todos os dias nós questionamos as normas de gênero e provamos que o envelhecimento não nos impõe limites ou reduz nossas capacidades, pelo contrário, nos dá oportunidades.
Envelhecimento feminino é o retrato do futuro
O etarismo e o preconceito contra mulheres acima dos 40 anos é um cenário insustentável uma vez que envelhecer é o futuro de todas as pessoas. De acordo com o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil já é um país envelhecido e feminino. O número de pessoas com 65 anos ou mais cresceu 57,4% em 12 anos e as mulheres são 51,5% da população. O IBGE ainda aponta que, em 2060, o número de idosos vai ultrapassar o de jovens e chegar a 25,5% da população.
No Paraná, as estatísticas mostram que há 1,9 milhão de pessoas com 60 anos ou mais vivendo no estado, o equivalente a 16% da população. As mulheres são a maioria entre os idosos, representando 55% das pessoas acima de 60 anos ou mais.
Aqui em Curitiba, para 2030, a projeção do estudo “Cenários da Cidade - Curitiba Longevidade”, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc), é que 21,9% dos curitibanos tenham 60 anos ou mais. Isso equivale a 435.646 pessoas. Ainda segundo o Ippuc, estima-se que o total de homens na cidade acima de 60 anos será de 174.122, enquanto as mulheres serão 261.524 - ou 60% do total de pessoas idosas no município.
Ressignificar a velhice feminina
Diante de uma população cada vez mais idosa e mais feminina, é urgente pensarmos no futuro e nos prepararmos para as questões acarretadas pelo envelhecimento, não apenas na área da saúde, mas em todos os aspectos da vida humana, como entretenimento, lazer, renda e trabalho, por exemplo.
Curitiba, por exemplo, tem a Lei 15.121/2017, que institui a Semana de Exposição dos Direitos e Serviços do Idoso, aprovada pelo meu mandato. O objetivo dessa legislação é conscientizar toda a população sobre a importância do Estatuto do Idoso e demais normas que garantam serviços e benefícios específicos à pessoa idosa.
Essa é uma chance de ressignificar nosso olhar para a velhice e, em especial, a velhice feminina. Qual o lugar que a mulher mais velha pode ocupar em uma sociedade patriarcal, etarista e machista? Absolutamente todos que ela quiser.
*Esta coluna foi publicada no jornal Brasil de Fato Paraná em 1º de março de 2024.