“Quero lembrar que o feminismo, se é esse o termo que querem usar, é um movimento social político. Não é uma obrigação de ninguém. É uma escolha que as pessoas podem fazer. Daí isso me remete também à questão de gênero”, defendeu a vereadora Maria Leticia Fagundes (PV), na sessão desta quarta-feira (9) da Câmara de Curitiba, após críticas a publicações sobre feminismo do portal da Gazeta do Povo. “A gente tem que desconstruir a ideia que gênero é sexo, porque não é. E quando a gente fala em gênero nas escolas a gente está abordando uma questão de educação. Nós não estamos falando em ideologia. O que a gente quer fazer é desconstruir comportamentos estereotipados, onde o homem domina e a mulher é submissa”, completou.
O discurso sobre o feminismo, que levou à questão de gênero, surgiu devido a publicações dessa terça-feira (8), que Maria Leticia criticou por “desfazerem do trabalho que mulheres durante séculos têm feito para trazer oportunidades a todas nós”. “Pior quando publicam um artigo assinado por uma mulher, o que me causa grande preocupação e angústia. Qual é minha preocupação aqui? Por exemplo, ela fala sobre o direito ao voto, que a história não está bem contada. Senhores, é uma questão de estudar. Tem que estudar mais. É um conselho que eu dou”, afirmou, sobre o artigo “Militantes feministas usam falsos pretextos para cooptar universitárias”, assinado por Thais Azevedo.
“Se uma mulher faz a escolha de cuidar de sua casa, de seus filhos, ela ainda sim pode ser feminista. Ela não é obrigada a ser empresária, política. Mas esse aprendizado tem que acontecer na infância. Se ela não tiver a percepção desde criança que pode fazer suas escolhas, sempre será submissa a um modelo dominador dos homens sobre as mulheres”, continuou. “Para mim, o feminismo é uma luta por oportunidades iguais entre homens e mulheres, que visa remover qualquer dificuldade que atrapalhe avanços na educação e no mercado de trabalho. O feminismo deve encorajar as escolhas e ser aberto as decisões individuais. Aqui [na Câmara] somos formadores de opinião e precisamos efetivamente abrir nossa cabeça e desfazer nossos preconceitos.”
Os vereadores Ezequias Barros (PRP) e Professora Josete (PT), que nessa segunda-feira (7) já haviam discutido o projeto que pretende implantar na rede municipal de ensino o programa Escola sem Partido (005.00275.2017), participaram da discussão, além de Thiago Ferro (PSDB), que assina a proposta de lei com Osias Moraes (PRB). “Quando falamos do ensino de gênero é outro contexto, vereadora [Maria Leticia]. Outra situação, que a gente vai no momento certo trazer ao debate”, argumentou Barros.
Sobre o primeiro tema, o vereador do PRP declarou ser favorável “que a mulher tenha liberdade de buscar seu espaço”. “Sempre trabalhei para que as mulheres da família tenham as mesmas oportunidades.” Na avaliação de Barros, elas estão buscando seu espaço “com mais força e mais vontade” que os homens. “Sou totalmente contrário a qualquer tipo de abuso, de força. Sou casado há 35 anos. Os homens precisam mudar essa forma, essa maneira, esse sistema machista que existe ainda.”
Em seguida, Josete disse ser feminista e defendeu novamente o ensino sobre gênero. “Temos que desconstruir determinados 'pré-conceitos'. O feminismo não é opressor. Não é possível comparar com o machismo. Pelo contrário, prega a igualdade entre homens e mulheres”, apontou. “Quando a gente fala em discutir gênero na escola, falamos nesse sentido de debater os papéis sociais que são dados a homens e mulheres e a necessidade que temos de fazer o debate desses temas para atingir a igualdade. Infelizmente acho que vivemos um momento muito difícil da sociedade, que o movimento conservador, intolerante, tem tomado corpo”, associou.
Por fim, Ferro lembrou da reunião entre vereadores da Frente Parlamentar em Defesa da Vida e a secretária municipal da Educação, Maria Silvia Bacila Winkeler. “A identidade de gênero ser trabalhada dentro das escolas, como nós ouvimos na reunião com a secretária de Educação ainda na semana passada, concordamos e, de fato, é fundamental. As distorções que saíram na mídia manipulada e o preconceito que eu ouvi dentro desta Câmara por duas ou três vezes durante a semana é que precisam ser expostos para que a gente tenha uma sociedade mais justa, para que a mulher tenha seu espaço de igualdade assim como o homem também tem”, sustentou. “Eu quando olho para meus filhos e precisava explicar o que é a morte, eu tive que buscar muita sabedoria e esperar o tempo correto”, comparou o vereador. “E [para] todos os temas existem o tempo correto e a forma correta de se falar”, concluiu.