A Câmara de Curitiba aprovou em primeiro turno, nesta terça-feira (29), uma denominação de logradouro público como Moêma Espinola Araújo, médica falecida em abril de 2014. A proposta de lei (009.00019.2017), de Maria Leticia, foi acatada com unanimidade, com 26 votos favoráveis. “Eu conheci a doutora Moêma, uma mulher corajosa, determinada. O trabalho que ela fez foi gigante. Uma construção progressiva, mas discreta, enfrentando problemas de saúde durante sua vida”, defendeu a autora. A parlamentar destacou a luta da homenageada pelas pessoas que tinham alguma deficiência – a da médica era visual.
“A Moêma foi uma dessas mulheres que entendia seu papel na sociedade como agente transformador e formadora de opinião”, continuou. A vereadora leu trecho da autobiografia da médica: “Quando nasci faltou luz no hospital. Na confusão, no escuro, resolvi nascer sozinha, sem a ajuda do médico. E ali estava traçado, seria deficiente visual”. Segundo Maria Leticia, “ela se tornou diabética, e há 50 anos o manejo era muito difícil, mas foi uma lutadora, formou-se no Magistério e em Medicina [pela Universidade Federal do Paraná]”.
Aos 22 anos, no 4º ano de curso de Medicina, Moêma engravidou. “Ela desenvolveu glaucoma, tornou-se completamente deficiente visual. Mas pensam que desanimou? Procurou o Instituto Paranaense de Cegos e a Associação dos Deficientes Visuais do Paraná [Adevipar], fez aulas de braille e locomoção, estava independente. Depois de passar esse trauma, voltou à faculdade”, contou a vereadora. “Daí vi uma das coisas mais bizarras da Medicina, teve que se submeter a comitês, porque a faculdade nunca havia enfrentado essa situação. Incansável, submeteu-se a todos os testes, passou em todos eles. Ela se formou sim, em 1987. Claro que diploma foi concedido na Justiça, mas foi feita justiça.”
Em 1992, Moêma Espinola Araújo foi candidata a vereadora de Curitiba pelo PST (Partido Social Trabalhista). Suplente, não assumiu a cadeira. Recebeu homenagens na Câmara, como o troféu Cidade Sorriso, em 2002. Fez parte do Conselho Científico do Instituto Pró-Renal de Curitiba, dentre outras frentes de apoio à saúde e à pessoa com deficiência. “Também era uma poeta. Escreveu versos, textos e logo teremos livros. Prefaciou outros, como o 'Deficiência Visual na Escola Inclusiva', de Carlos Fernando França Mosquera. Melhor para falar sobre Moêma seria a família. Tenho aqui algumas palavras de seu filho”, completou. Para Leandro Espínola Araújo, sua mãe “contribuiu para derrubar barreiras, com fé, luz e energia”.
Maria Leticia concluiu que a homenageada “acreditava na determinação, mas acho que muito mais no amor, porque suas vulnerabilidades a tornaram muito mais forte. Temos que trazer mulheres à luz desta Câmara”. Também acompanharam a votação dois primos de Moêma, Piratan Araújo Filho e João Fernando Araújo Bittencourt.